segunda-feira, 6 de abril de 2009

Natureza em Alerta

De acordo com registros históricos, a presença do homem na terra é um fenômeno recente se comparada com o processo de evolução da vida no planeta. Considerando todo o tempo de formação e evolução do planeta, 4.5 bilhões de anos, a presença de espécie humana representa apenas 0,001% deste tempo.

A passagem do período Paleolítico, caracterizado pelas sociedades nômades e coletoras, para o período Neolítico, no qual o homem se fixa, cresce, desenvolve a agricultura e se expande na terra, marca o início de um processo contínuo de intervenções no ambiente. Esta evolução representou uma mudança na relação sociedade-natureza: de uma noção orgânica e sagrada da natureza das sociedades nômades, dependentes de seu ritmo, para a idéia dicotomizada entre homem e natureza dos filósofos do período clássico grego, entre eles Sócrates, Platão e Aristóteles. Com a posterior influência da tradição judaico-cristã e a afirmação de que “Deus criou o homem à sua imagem e semelhança¨ e que ¨o homem recebeu de Deus a capacidade para presidir aos peixes do mar, e as aves do céu, a aos animais selváticos, e a toda a terra para sujeita-la e dominá-la (vide Gênesis 1:26-31), a oposição homem-natureza se concretiza.
Como conseqüência deste processo lento e gradual de intervenção, caracterizado pela domesticação de elementos naturais e das espécies, surgem as primeiras paisagens artificiais naturalizadas com o passar do tempo que interferem na dinâmica dos ecossistemas. Além das religiões monoteístas, a filosofia grega, a ética antropocêntrica e o paradigma mecanicista dos séculos XVII e XVIII consolidam a ruptura no modo como a natureza é vista e como o homem passa a se relacionar com ela. A Revolução Industrial e a consolidação do sistema capitalista, no ocidente, refletem a oposição do homem à natureza. Ele se vê livre para apreendê-la pela razão, dominá-la e transformá-la em mercadoria.
Sob este panorama histórico, podemos afirmar que, a crise ambiental é um resultado da tentativa do homem de controlar a dinâmica dos ecossistemas de forma inconseqüente e desmedida. Até então, a ausência de visão e planejamento de ações a longo prazo fazem com que o homem continue interferindo no meio ambiente descaracterizando paisagens de valor cultural, dizimando espécies, gerando problemas sociais como o crescimento desordenado das populações acentuando assim as desigualdades de classe.

Portanto, a crise ambiental da atualidade é conseqüência da intervenção do homem sobre o meio num longo processo que se acelerou com a industrialização e a urbanização das cidades. Ao se dar conta das limitações das reservas naturais e do esgotamento futuro surge um novo desafio para humanidade, como redefinir a nossa relação com o meio ambiente no intento de assegurarmos o futuro da nossa espécie?

Um comentário:

  1. Ao contrário do que muitos argumentam, as soluções para os problemas ambientais e sociais dependem de mudanças éticas, e não tecnológicas.

    Já possuímos conhecimento suficiente, hoje, para resolver muitos desses problemas - falta apenas "viabilidade econômica" ou "vontade política" para permitir que esse conhecimento seja usado na criação de novas tecnologias.

    Infelizmente, sinto que estamos indo na direção contrária. Nas escolas, estamos adicionando cada vez mais "conteúdos" às disciplinas, com consequente redução do tempo para discussão, análise, reflexão.

    Sabemos cada vez mais, e refletimos cada vez menos.

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